Exposição de pintura "Essa Paixão Proibida" - de Sílvia Patrício
Sinopse
Um estranho numa cidade estranha ou ...Amaro, amor amargo.
No filme a Invenção do Amor, poema homónimo de Daniel Filipe, António Campos conta-nos uma história de um amor proibido. Neste Amor, condenado por uma liberdade que não existia nos anos 60, os amantes são perseguidos por terem ousado amar.
Em “Essa Paixão Proibida" Sílvia expressa nas grandes telas a óleo minuciosamente pintadas e povoadas de personagens ensimesmados alheios ao nosso olhar, as suas narrativas pictórícas estão cheias de inquietações, e questionamentos. Nelas habitam personagens que gerem com liberdade as palavras escritas que lhe deram início. Desenhada pela mão da artista, contam-nos outra história que se cruza no tempo histórico com o tempo da ficção. Sonhadora, perdida de amores numa praia com almofadas voadoras, a rapariga voa amargurada na negritude das ruas estreitas da cidade.
Podemos pensar numa relação quase direta entre o texto de Eça de Queirós, O crime do Padre Amaro, contudo a produção artística da Silvia Patrício vai mais além. Existe uma manifestação sublime sobre a ideia de impotência face ao destino trágico dos personagens, expressa nos gestos que recorrem à cor, ao preenchimento do espaço da tela, um frenesim que se destaca dos fundos e que quase incomoda, como se a felicidade fosse proibida, assim como os pequenos prazeres. Ela deseja, ela sonha. Ela escapa, ela é condenada.
A pintura de Silvia Patrício remete-nos para um universo figurativo alegre efusivo desconcertante e de uma aparente normalidade, mas denso e intrigante, e questiona a possibilidade do Amor entre duas pessoas face a convenções sociais da época que acabam por ser bastante punitivas para a mulher.
Nesta serie de 13 Pinturas, existe um ponto de partida com base no livro, contudo, a reflexão temática de cada pintura, encerra um universo específico que vale por si. Muitas das questões afloradas sobre a condição feminina, condenam-se na última tela, em feito de rememoração, dá-se nota do desfecho final se considerarmos a composição da pintura e valor iconográfico e simbólico da representação. Terá este Amor alguma vez existido para além de uma comunhão do corpo? Como se vive com o desconforto do engano sofrido, e a tragicidade conducente pela leviandade de Amaro?
Esta narrativa, agora contada no feminino como um flashback, deixa em aberto o desfecho no presente continuo e reclama uma reflexão sobre as responsabilidades bilaterais no amor consentido. Será um Amor proibido significado de desfecho trágico, poderia a narrativa de Eça ter um final menos controverso? A luz dos tempos era obscura e culpabilizante, o erro era vigiado e punido no feminino. Para Amaro, a cidade é palco de uma aventura, e esta aguarda perdão no confessionário de outra paróquia.
Ana David Mendes
(Curadoria)
Outras Informações
Público geral
Entrada livre
Diariamente das 18h00 às 22h00