23 jun. 2023 18h00
20 ago. 2023 18h00

Exposição "O desenho é um lugar solitário" de Jorge Leal | #projectroom

Visita Guiada Cultura Visita guiada Exposição

Sinopse

"O desenho é um lugar solitário" de Jorge Leal
Curadoria de João dos Santos

23 JUN - 20 AGO 2023

"A minha relação com a paisagem sempre foi profunda, estar no meio dela um estado natural (Solnit; 2002; 30-31). Ter realizado uma residência artística, em agosto de 2017, no LAC - Laboratório de Atividades Criativas, em Lagos, permitiu uma imersão total no ambiente da Barragem da Bravura, e tornou a paisagem num tema trabalhado sistematicamente no meu trabalho. Embora os desenhos realizados não tenham sido completamente resolvidos, esse período de trabalho foi instrumental para dar início a uma investigação que está permanentemente com o fim em aberto — Open Endedness — (Hirvi-Ijäs e Kokko, 2019; 95), uma vez que felizmente ainda não encontrei uma resposta definitiva para o problema da representação da paisagem.

Tenho presente que o que designamos por natureza está distante de qualquer ideia de selvagem ou intocado, uma vez que toda a paisagem por onde me desloco é manipulada e gerida (Nash, 1976; 14). Mesmo assim, estar no meio da natureza é uma experiência muito intensa, imersiva (Lübbren, 2001; 83), que necessita da mediação do desenho. Sinto que a minha atenção é ativada quando estou no meio da natureza, que fico mais atento ao que me rodeia, uma vez que estou a trabalhar a partir de uma determinada situação (Kkoko e Elfving, 2019; 13) e não num ambiente familiar ou neutro. As temperaturas, sons e cheiros permitem-me sentir que pertenço a esses sítios. Por vezes trabalho despido para estar mais desprotegido, para sentir tudo mais intensamente, passar a fazer parte do ecossistema. Desenhar dentro de água permite igualmente promover uma experiência mais imersiva, aumentando o entendimento da materialidade da água e dos seus ritmos superficiais. O caráter meditativo do meu desenho tem por base uma profunda prática de antropofuga (Cortázar, 1962; 44), evidenciada pela ausência de presenças humanas. Mesmo nos desenhos que representam momentos das minhas deslocações em autoestradas ou subúrbios urbanos existe uma melancolia provocada pela ambivalência entre a comodidade da infraestrutura viária e a destruição do território natural.

Os períodos de residência artística formal ou informal e as caminhadas têm como resultado uma grande quantidade de desenhos em cadernos. A minha curiosidade é constante e os meus pés precisam de terrenos desconhecidos (Thoreau, 2012; 34). Parte do tempo passado na paisagem consiste na observação demorada e meditativa, o olhar é crítico e raramente distraído como o de um turista (Michelkevičius, 2013; 119), na procura de um entendimento mais profundo que o superficial e descritivo. Os módulos e ritmos de formação da paisagem permitem construir um desenho no limite da figuração que é simultaneamente interpretativo e diarístico.

Todo o trabalho de campo é posteriormente filtrado no ateliê em versões ampliadas e alteradas materialmente. Retrabalhar os desenhos permite uma recuperação de memórias sensoriais que se expressam através de frases escritas que complementam os desenhos, através de associações livres de ideias e memórias recuperadas ao olhar as páginas dos cadernos.

Na natureza encontro vestígios de vida animal (ossos, cascas, cadáveres) que muitas vezes recolho. Algumas destas amostras são desenhadas no local, outras no ateliê. Estes desenhos acrescentam escalas à ideia de paisagem, permitem que a atenção se multiplique entre o detalhe e a visão panorâmica. A casca de uma ostra pode assumir a presença visual de uma montanha, apenas a origem do desenho as distingue.

As animações pretendem recuperar memórias sequenciais da experiência de estar no meio da paisagem. Nestas exploro a materialidade do desenho para obter uma linguagem analógica e rudimentar para contrariar a estética digital onde são editadas. Interessa-me que as animações complementem e estendam o tempo contido nos desenhos estáticos através da utilização da mesma linguagem gráfica.”

Maio 2023 | Jorge Leal

 

Ficha técnica

Artista: Jorge Leal

Curadores: João dos Santos

Organização: BAG - Banco das Artes Galeria | Município de Leiria

Outras Informações

De 2ª a 6ª-Feira, das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30

Sábado, domingo e feriados, das 09h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00

 

Entrada Gratuita

Público alvo: População em geral

244 839 619 (chamada para rede fixa nacional)
bancodasartesgaleria@cm-leiria.pt